segunda-feira, 26 de julho de 2010

uma parte na outra parte

Ela olhava para seus mapas, tatuados em todo seu corpo, pele, palmas das mãos e olhos. Estava querendo um caminho para a próxima viagem. Ela até podia parecer perdida voltando-se para guias tão íntimos, mas sabia, às vezes não, que podia confiar nas trilhas já velhas de seus mapas. Ela também pressentia esse caminho, talvez um atalho, mas ele estava perto.

Não tinha experiência no amor, mas o procurava em todas as coisas. Talvez por isso tamanha sua felicidade em conseguir ver beleza em tudo, até nos latões que catava no lixo daquela praia pra transforma-los em simples e delicados artefatos. Também, pudera, suas mãos de menina sempre quiseram ter a habilidade das bordadeiras, artesãs, escritoras do colorido da vida. Punindo-se com humildade, cortou-se, entortou os dedos até tornar o feio belo. Mas ele já era bonito, pra ela sim, e só queria que os outros enxergassem dessa forma, sem precisar explicar, sem que eles entendessem, mas absorvessem para vivenciar o contato sublime com a própria percepção.

E então, naquela praia imunda e fétida, quando parou para recarregar sua matéria-prima, seu coração saltou e caiu aos pés, o que a fez correr desenfreadamente até ao homem que passou, balançando seus cabelos e vestido, até parar em frente ao mar e olhar, quase embriagado, para seus próprios pés.

E ela se aproximou dele como alguém que se aproxima de um espelho disforme, tentando identificar sua silhueta nos defeitos do reflexo. Ela sabia o que ele tava sentindo naquele momento. Só sentia, mas já era o bastante pra poder se aproximar daquele homem e o conhecer.

2 comentários:

  1. quero ler mais partes. gostei do seu texto, me passou a emoção que você sentia enquanto escrevia.

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  2. Que lindos seu blog e seus textos, Moni, querida! Escreve mais!

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